Anacoluto

Por Leticia Gomes Montenegro

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

Categorias: Linguística, Português
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O anacoluto constitui o conjunto de figuras de construção ou de sintaxe. Isto significa afirmar que se trata de uma figura de linguagem que transfigura a construção padrão das orações conforme a sintaxe prevista pela gramática.

Nesse sentido, o anacoluto é a figura que quebra a estruturação lógica da oração, mudando a construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível. Conforme é possível verificar nestes exemplos:

Eu parece-me que ainda não agradei a todos.

A pessoa do discurso quer exprimir uma ideia através do verbo “agradar”, e para isso inicia seu pensamento com o pronome “eu”, termo pelo qual irá expressar o sujeito da ação. Contudo, o sujeito anunciado torna-se o elemento que ficou sem função. Com a imprevista estrutura assumida pela frase, a primeira pessoa, por ele representada, passou a objeto direto. (me)

O anacoluto é um fenômeno muito comum, especialmente na linguagem falada, e pode ser assim explicado: depois de uma pausa, a pessoa que fala ou escreveu perde-se do começo do enunciado e continua a exprimir-se como se iniciasse uma nova frase.

Eu que era corajosa e destemida, eis-me assustada e magoada.

Uma análise coerente deste fenômeno da linguagem é a perspectiva de que o pensamento acontece em uma velocidade muito maior do que a fala é capaz de acompanhar, resultando, portanto, em uma manifestação das ideias que desloca as estruturas linguísticas.

É aquela situação em que os falantes iniciam uma conversa sem prever para qual rumo o diálogo vai se direcionar, e algumas vezes não se conclui aquele pensamento inicial. No meio da fala, ou até mesmo do texto escrito, dá-se pelo descuido, faz-se pausas, reelaboram-se as ideias, e, não sendo possível retomar o pensamento inicial, dá continuidade em outra direção.

O anacoluto, fora de contextos específicos, é evitado por aquelas pessoas que primam pelo falar e escrever correto da língua portuguesa.

Coloca-se entre as construções anacolúticas o começar o enunciado por um termo não preposicionado e depois recuperá-lo na sua função própria, como que desprezando o inicial:

O indivíduo que não sabe respeitar o convívio social, contra ele se impõe as regras.

UM ANACOLUTO MUITO COMUM É: “Eu parece-me que tudo vai bem.” Citado por muitos gramáticos, como por exemplo Evanildo Bechara.

Exemplos de anacoluto

Minha amiga, ela não seguiu meus conselhos, arrependeu-se depois.

Aquela avaliação, as questões da avaliação foram muito complicadas.

Você acredita que Maria, ela abandonou o curso?

Acompanhe esta análise:

Eu sentia-me infeliz. Era insuportável a sensação, sentia-me enganada. A cada dia aumentavam as dificuldades financeiras também, tudo ficava difícil naquela casa.

Observação: perceba como o enunciado vai mudando de sujeito, o pronome “eu” que anunciava o discurso, muda para a posição de objeto (me) e em seguida se perde, deixa de ser o sujeito do texto . Na segunda oração o complemento do termo “sensação” fica vazio e complementa-se na oração posterior pela expressão “sentia-me enganada”, quando deveria ter sido concluída com “a sensação de ser enganada

Bibliografia:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016

CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 15. Ed., 4° reimpressão – São Paulo: Ática, 2002.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 5 ed. – São Paulo: Contexto, 2000 – Coleção: Repensando a Língua Portuguesa.

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