Caça de Baleias

Mestre em Dinâmica dos Oceanos e da Terra (UFF, 2016)
Graduada em Biologia (UNIRIO, 2014)

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Proibida desde 1986 pela Comissão Baleeira Internacional, a caça de baleias teve seu início há pelo menos 5 mil anos, e gera controvérsia até os dias atuais. Enquanto países como Japão, Noruega e Islândia defendem a liberação da caça comercial destes animais, organizações ambientalistas travam uma árdua batalha para preservar e proteger estes magníficos cetáceos.

As baleias e o homem

Majestosas, intrigantes e, de certa forma, assustadoras, as baleias despertam o fascínio da humanidade desde seus tempos mais primitivos. Retratadas em obras de arte e ficção literária, além de produções cinematográficas como ‘Free Willy’ e ‘Orca – Baleia Assassina’, estes animais povoam o imaginário popular há milhares de anos, assumindo diferentes estereótipos: a princípio apontadas como monstros marinhos, passaram a ser vistas como criaturas domáveis a partir do século 18, quando sua caça tornou-se sinônimo de aventura e status, vide a famosa história de Moby Dick, escrita por Herman Melville. Tal visão perdura, de certa forma, até os dias atuais, visto que algumas espécies são mantidas em cativeiro para shows de entretenimento em parques aquáticos como o Sea World, nos Estados Unidos. Além disso, a caça comercial de baleias ainda é realizada em alguns países, apesar desta atividade ser ilegal há mais de 30 anos.

A caça de baleias: linha do tempo

Os primeiros registros da caça de baleias foram encontrados no sítio arqueológico de Bangudae, na Coréia do Sul, e datam de 6 mil anos antes de Cristo (a.C.). Registros desta atividade também foram encontrados no Norte da Europa entre 800-1.000 anos a.C., época marcada pelo consumo para subsistência. A partir do século 17 d.C., a indústria baleeira começou a ser formada, devido à comercialização do óleo destes animais, utilizado em lamparinas ao redor do mundo. De acordo com o avanço da tecnologia, houve a modernização das embarcações e aparatos de captura: navios tornaram-se motorizados e arpões passaram a ser explosivos, lançados de canhões. Estes adventos permitiram o crescimento da indústria baleeira, que passou a formar estoques, e tornou-se o maior empreendimento comercial da época devido ao seu alto lucro e competitividade. Além do óleo, também eram extraídas as barbatanas das baleias para seu uso em espartilhos femininos e escovas, e cera para a fabricação de velas. A gordura destes animais também era utilizada para cozinhar alimentos, enquanto que sua carne tinha importância secundária, exceto no Japão, onde é considerada uma iguaria até os dias atuais. Os ossos das baleias também eram aproveitados na concepção de joias, peças de xadrez e outros brinquedos, além de serem utilizados como ferramentas de trabalho e caça.

No século 20, a captura de baleias tornou-se extremamente eficiente, levando ao declínio significativo de várias espécies como a Baleia Azul e a Baleia Comum, que chegaram à beira da extinção. Como consequência, novas políticas e ações legais foram elaboradas a fim de regulamentar a caça destes animais, e em 1931, acordos internacionais entre vários países foram realizados com o propósito de monitorar a indústria baleeira, e evitar a extinção das espécies. Em 1946, a Comissão Baleeira Internacional (CBI) foi criada para estabelecer regras mais rígidas e proteções legais a respeito destes cetáceos, e vários países concordaram em diminuir ou cessar a sua caça. Apesar da instauração desta comissão, a captura anual de baleias continuou subindo até a década de 60, quando atingiu 65.000 exemplares. Em 1986, a CBI propôs uma moratória com a interrupção da pesca por um período de 5 anos para a frota comercial, a fim de recuperar os estoques ameaçados. Esta moratória permanece válida até hoje, embora países como o Japão, a Noruega e a Islândia lutem pela liberação da caça.

Arpão utilizado na caça de baleias. Foto: Asmus Koefoed / Shutterstock.com

Cenário atual

Apesar de proibida mundialmente, a caça de baleias ocorre até hoje, porém em menor escala. O Japão, Noruega e Islândia são os principais países que desejam o fim da moratória da CBI, alegando, entre outros motivos, que existe uma grande demanda pela carne destes animais em seus mercados. O Greenpeace, por outro lado, afirma que essa necessidade não é real, apontando que na Islândia a carne de baleia é vendida majoritariamente para turistas, enquanto que no Japão esta seria utilizada para compor a ração de animais de estimação; já na Noruega, a carne de baleia seria usada para alimentar animais em fazendas de extração de pele. Esta organização também estima que 1.500 baleias já tenham sido mortas ilegalmente por estes países, motivados por ganhos econômicos e tradições culturais. Devido a pressão que estes países vêm exercendo para a derrubada da moratória, o Greenpeace, junto com o apoio de outras organizações, vem tentando, sem sucesso, criar um santuário de baleias no Atlântico Sul desde 1998. Entre os objetivos desta medida estão a proteção das espécies, otimização do manejo não letal dos estoques baleeiros, o desenvolvimento do turismo de observação, e o incentivo de pesquisas científicas com estes mamíferos. A adoção destas medidas é justificada pela baixa fecundidade e lento crescimento destes cetáceos, o que dificulta a recuperação das espécies, que, em alguns casos, permanecem ameaçadas de extinção até hoje, quase 50 anos depois da criação da CBI.

Referências:

Biologia Marinha. Pereira, R. C., & Soares-Gomes, A. (2002). Rio de Janeiro: Interciência, 2, 608.

Greenpeace International: http://www.greenpeace.org/international/en/campaigns/oceans/whaling/

Projeto Baleia Franca: http://www.baleiafranca.org.br/oprojeto/publicacoes/SantuarioAtlanticoSul.pdf

Whale Facts: Marine Mammal Facts & Information: http://www.whalefacts.org/whale-hunting/

Arquivado em: Ecologia
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