Samambaias

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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As samambaias são vegetais vasculares membros do táxon das pteridófitas (que deixou de ter validade taxonômica e só é utilizado como uma denominação informal). Elas possuem tecidos vasculares (xilema e floema), folhas verdadeiras, se reproduzem através de esporos e não produzem sementes ou flores.

A diversificação das samambaias parece ter ocorrido no Devoniano (há mais de 400 milhões de anos). Elas foram essenciais na ocupação dos ambientes terrestres pelos animais, fornecendo habitat e alimento além de serem importantes na formação do solo rico em nutrientes que viria a propiciar a formação das grandes florestas do carbonífero. Neste período as samambaias e as licófitas eram as principais representantes vegetais do planeta.

Samambaias. Foto: Bildagentur Zoonar GmbH / Shutterstock.com

Apesar de não produzirem frutos e dependerem da dispersão de seus esporos para colonizar novas áreas, as samambaias são muito bem distribuídas nas zonas tropicais, subtropicais e temperadas do mundo. Somente no Brasil já foram descritas mais de 1.000 espécies de samambaias. Sua distribuição geográfica parece estar ligada de maneira intrínseca a diversos fatores abióticos como temperatura, umidade e pH.

O ciclo de vida das samambaias é consideravelmente distinto do de outras plantas, possuindo alternância de gerações entre um esporófito diploide e um gametófito haploide. Inicialmente, o esporófito (2n), que é a samambaia propriamente dita, produz esporos haploides (n) através da meiose. Após a dispersão, esses esporos crescem por mitoses em um gametófito (n), que é chamado de protalo, um estágio de vida curta com capacidade fotossintética. Este protalo produz gametas (n) tanto masculinos quanto femininos através de mitoses. O gameta masculino, que é flagelado, fertiliza o gameta feminino, que é imóvel e permanece aderido ao protalo. O ovo fertilizado forma o zigoto (2n) de um novo esporófito (formando uma nova samambaia).

O principal risco ambiental que afeta as samambaias é o desmatamento, a fragmentação de habitats, o aumento do efeito de borda e a invasão de plantas exóticas. Elas não possuem a mesma importância econômica e nutricional que as angiospermas, contudo, são amplamente utilizadas como plantas ornamentais e possuem grande valor cultural em diferentes países. Na Nova Zelândia, por exemplo, a samambaia de prata (silver fern) é tida como um dos símbolos do país por ser uma planta nativa e endêmica da ilha e por apresentar uma coloração acinzentada similar à prata.

Algumas espécies de samambaias são consideradas invasoras e tratadas como pragas por ameaçar a biodiversidade. Este é o caso da samambaia australiana (Cyathea cooperi) que foi introduzida no Havaí e hoje cresce sem controle, competindo com a vegetação nativa.

Recentemente, estudos apontam que uma espécie de samambaia, a Pteris vittata, tem um grande potencial para ser utilizada em bioremediação de locais contaminados por arsênico. Este contaminante de atividades de mineração e do uso de pesticidas pode causar câncer e se acumula tanto no solo quanto na água. A samambaia aparentemente acumula o arsênico em seus tecidos, removendo-o do solo, sendo assim capaz de despoluir um local contaminado.

Referências:

Gonzatti, F., Machado, L. and Windisch, P.G., 2016. Distribution patterns of ferns and lycophytes in the Coastal Region of the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Acta Botanica Brasilica, 30(2), pp.239-253.

Medeiros, A.C., Loope, L.L. and Anderson, S.J., 1993. Differential colonization by epiphytes on native (Cibotium spp.) and alien (Cyathea cooperi) tree ferns in a Hawaiian rain forest. Selbyana, 14, pp.71-74.

Scott, A.C. and Galtier, J., 1985. Distribution and ecology of early ferns. Proceedings of the Royal Society of Edinburgh, Section B: Biological Sciences, 86, pp.141-149.

Wang, J., Zhao, F.J., Meharg, A.A., Raab, A., Feldmann, J. and McGrath, S.P., 2002. Mechanisms of arsenic hyperaccumulation in Pteris vittata. Uptake kinetics, interactions with phosphate, and arsenic speciation. Plant physiology, 130(3), pp.1552-1561.

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