Marcha da Vitória

Por Michelle Viviane Godinho Corrêa

Mestre em Educação (UFMG, 2012)
Especialista em História e Culturas Políticas (UFMG, 2008)
Graduada em História (PUC-MG, 2007)

Categorias: Ditadura Militar
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A Marcha da Vitória foi uma manifestação pública de apoio ao Golpe de 1964 que ocorreu em 2 de abril de 1964. Reunindo 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro, o evento relaciona-se à Marcha da Família com Deus pela Liberdade que, em 19 de março, havia demonstrado o desejo de grupos de classe média e alta quanto à retirada de João Goulart do poder.

O medo do comunismo

Em 2 de abril de 1964, cerca de 1 milhão de pessoas foram às ruas no Rio de Janeiro em apoio a chegada dos militares ao poder. No Jornal O Globo, de 3 de abril de 1964, o medo do comunismo, propagado pelas potências capitalistas durante todo o século XX, se mostra presente em declaração dada pelo jornal na tentativa de elucidar os fatos que ocorriam naquele contexto: "O Brasil estava sendo destruído para que, sobre seus escombros, viesse a erguer-se uma ditadura do tipo cubano. Disposto a apressar a conquista do Poder, os comunistas que orientavam e controlavam o Governo já não se detinham diante de coisa alguma." (O GLOBO, 1964).

O Golpe de 1964 e os conspiradores civis

O evento foi financiado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e pelo mineiro Magalhães Pinto, cofundador do Banco Nacional de Minas Gerais e ex-governador do estado. Apoiador do Golpe de 1964, Magalhães Pinto fez parte do grupo de políticos de direita que tentaram impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros.

Outros civis importantes para a concretização do Golpe foram Carlos Lacerda – desde a década de 1930 posicionando-se ora pela direita ora pela esquerda constantemente – e Adhemar de Barros. Em 1960, Lacerda era eleito governador da Guanabara pela UDN e fez forte oposição à Jânio e Jango. Já Adhemar de Barros havia também tido uma história de mudanças de posições políticas durante a Era Vargas. Sofreu derrotas eleitorais para Jânio, em SP, e para Juscelino Kubitschek, na presidência da República. Na ocasião do golpe era governador de São Paulo e foi responsável pelo “Manifesto dos Governadores Democratas”, contra Jango em 1963.

Além deles, setores da Igreja Católica e movimentos sociais, como a União Cívica Feminina (UCF), apoiaram o golpe durante a marcha do dia 19 de março. Na ocasião, a UCF entoou os seguintes versos:

“Abaixo o Imperialismo Vermelho
Renúncia ou Impeachment
Reformas sim, com Russos, não
Getúlio prendia os comunistas, Jango premia os traidores comunistas
Vermelho bom, só o batom
Verde, amarelo, sem foice nem martelo.” (AMORIM; MACHADO, 2014).

Jango fora do jogo

É fato conhecido que a grande mídia apoiou o golpe de 1964. No dia da Marcha da Vitória, declaravam com louvor a posse de Ranieri Mazzilli como presidente. Na capa do Diário da Noite (São Paulo) daquele mesmo dia, o jornal declarava também que Jango deixara Brasília e que começava ali a caça aos comunistas: "De agora em diante vamos caçar os agentes e Moscou, Pequim e Havana". Com a retirada de Jango do poder, o Diário de Piracicaba comemorava: “Cessadas as operações militares: A calma volta a reinar no país'' (MAGALHÃES, 2014).

Dessa forma, foi iniciada uma ditadura que durou 21 anos e, apesar de ter começado com o apoio de parte da população, terminou tendo como críticos muitos dos setores que em 1964 a apoiaram.

Bibliografia:

AMORIM, Felipe; MACHADO, Rodolfo. Há 50 anos, elite empresarial que queria derrubar Jango financiou marcha. Rede Brasil Atual, 22 mar. 2014. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/03/ha-50-anos-elite-empresarial-que-queria-derrubar-jango-financiou-marcha-9585.html>. Acesso em: 12 nov. 2017.

BUENO, Eduardo. O Golpe de 64. In: Brasil: uma História: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya, 2012, p. 386-401.

CPDOC. Magalhães Pinto. FGV, Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/biografias/magalhaes_pinto>. Acesso em: 10 nov. 2017.

MAGALHÃES, Mario. 19 capas de jornais e revistas: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe. Blog Mário Magalhães, UOL, 31 mar. 2014. Disponível em: <https://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/03/31/19-capas-de-jornais-e-revistas-em-1964-a-imprensa-disse-sim-ao-golpe/>. Acesso: 12 nov. 2017.

O GLOBO. Mais de 800 mil pessoas na "Marcha da Vitória". O Globo, Rio de Janeiro, 3 abr. 1964. Disponível em: <http://duyt0k3aayxim.cloudfront.net/PDFs_XMLs_paginas/o_globo/1964/04/03/01-primeira_secao/ge030464001PRM1-1234_g.jpg?Expires=1510526585&Signature=SD3Low6vBbylnoHEl-9qIpj~1PZURQSaC7npd57X5Hya2augiwb5n3gNz58I0EbJxxKcP4Cj89WgLsu-Yyn9eRBs0eAOG3N1sJ76VBdmTt-2Fh2PM-vrgU3lSyfn-aUSHpm-Ja~-6NZqdTn22H56sLXGXA-6opVmzudqEHGQycbg58-6QoReGEFc4kDTD0Iu6riWPWszS3zOMEGJAbrGH~HQNgHF0Kmh85mEi51AzeZUgMo5tupljkZ1GPloV7dHcw-3NZIy~YmjSITXaJB9eumV6O3~8jP8X127j5ib233IOqa5d9Ac2MazYd8cQNU~ZFprbUln83Sr~E0f5nOjaA__&Key-Pair-Id=APKAIXUISCOALHPXYJEQ>. Acesso em: 12 nov. 2017.

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