Recessões econômicas no Brasil desde o final da ditadura militar

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Uma crise de nove trimestres assolou o país entre 1981 e 1983, durante o governo do general João Figueiredo, o último da ditadura militar, com queda na economia de 8,5%, configurando uma recessão forte e longa, que teve como principal fator a crise da dívida externa brasileira, e melhorou com as exportações que trouxeram mais dólares ao país e pela expansão da economia mundial.

Em 1986, o presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado, que falhou e se configurou numa crise econômica forte entre 1987 e 1988, com duração de seis semestres, causada pela expansão do crédito que se configurou numa hiperinflação que chegou à marca 366% ao ano, com uma sucessão de planos econômicos de controle de preços que prejudicaram ainda mais a economia. Dessa recessão o Brasil praticamente não saiu, ela apenas teve um período de trégua por três trimestres.

A indexação de preços faz pressão artificial sobre os preços relativos, agravando o problema. Ela apenas cobre variações de preços que já haviam ocorrido no passado, em decorrência da expansão monetária. O controle de preços comprime ou elimina por completo os lucros, causando o desarranjo da estrutura de produção da economia, podendo gerar até a escassez de produtos.

Quando o governo controla os preços ele tenta jogar a responsabilidade da inflação sobre produtores e vendedores, como se ela não fosse resultado de suas próprias políticas monetárias. Foi o que ocorreu no governo de José Sarney, que criou até o título de “fiscal do Sarney” para que os consumidores fiscalizassem se os preços de mercado estavam dentro das diretrizes de controle do governo. Neste período a escassez realmente aconteceu, pois os preços tabelados pelo governo reduziam tanto os lucros como eram insuficientes para cobrir os custos de produção, e os alimentos passaram a faltar nas prateleiras dos supermercados, especialmente leite e carne. Infelizmente, o controle de preços foi amplamente usado no Brasil até antes da implementação do Plano Real.

Sarney também lançou o Plano Cruzado 2, o Plano Bresser e o Plano Verão. Mas, assim como o Plano Cruzado, todos falharam. Ele entregou a presidência a Fernando Collor em um cenário de caos econômico em 1990.

De 1989 a 1992, outra recessão forte e longa prejudicou a economia brasileira, com queda acumulada de 7,7% e duração de 11 trimestres. O Plano Collor aumentou a hiperinflação, confiscou recursos de todos os brasileiros e empresas, paralisando a economia. Uma política completamente autoritária de tomar depósitos bancários e cadernetas de poupança. A medida chocou o Brasil inteiro, dos mais ricos aos mais pobres.

Após um feriado bancário de três dias, os bancos não tinham dinheiro suficiente para os saques que os brasileiros precisavam fazer. Collor também aumentou a tributação, cortou servidores e subsídios. Em 1990 houve contração na economia de 4,3%. A inflação chegou a 1.620% em apenas 12 meses. O plano de Collor não salvou a economia brasileira e apenas irritou o povo, e em 1991 foi substituído por uma segunda versão. Também não deu certo, e em 29 de dezembro de 1992, Fernando Collor renunciou a presidência da República, horas antes de ser condenado por crime de responsabilidade.

O que realmente ajudou a economia brasileira foi o Plano Real, lançado em 1994 durante o governo de Itamar Franco. Com participação de grandes economistas como Pérsio Arida e Gustavo Franco, o Real foi a moeda que fez a dignidade econômica retornar ao Brasil. Fernando Henrique Cardoso, mais conhecido como FHC, era o ministro da Fazenda do presidente Itamar quando a moeda foi lançada, fato que lhe deu popularidade, e ele se tornou presidente no ano seguinte.

Porém, em 1995, uma fraca e curta recessão se instalou no Brasil, com duração de dois semestres e a queda acumulada de 2,8%, causada pela Crise Tequila do México, que levou a fuga de capitais e encarecimento do crédito. Quando a economia global estava se recuperando, ela se tornou mais favorável aos produtos brasileiros, o que foi bom para a economia do país.

Com o colapso financeiro dos Tigres Asiáticos e quebra dos bancos de investimento americanos do fim dos anos 90, o dólar subiu e o Brasil mudou a política monetária de cambial fixo para flutuante. De 1998 a 1999, contabilizando 5 trimestres, a queda acumulada na economia brasileira foi de 1,6%. Mas a alta do Dólar teve uma vantagem para o Brasil: as exportações foram impulsionadas pelo ciclo de expansão mundial pós-crise, e o Brasil obteve boas receitas já que o Dólar estava valorizado e era essa a moeda recebida pelas exportações.

Outra recessão fraca se estruturou no Brasil durante o governo FHC. Em 2001, com 3 trimestres, impulsionada pelo contágio da crise da Argentina, pelos atentados terroristas nos Estados Unidos e o racionamento de energia. O fim do racionamento e a melhora no setor internacional impulsionaram as exportações, ajudando o Brasil a sair da recessão.

Quando Lula da Silva se tornou presidente do Brasil, em 2003, ele deu continuidade às políticas instituídas com o Plano Real, o que teve grande importância para a economia brasileira. Lula tinha uma equipe econômica surpreendentemente conservadora e ortodoxa para um presidente de esquerda – que, aliás, foi o que permitiu que ele assim governasse: o maior líder sindical do Brasil chegou ao cargo mais alto de poder, a esquerda não exerceria pressão contra essas políticas através dos sindicatos, e o mercado reagiu positivamente à equipe de Lula, que tinha nomes como o economista respeitado Marcos Lisboa, e Henrique Meirelles, banqueiro de consagrada carreira internacional.

Mas uma recessão perpassou o país em 2003, com queda acumulada de 1,3% e duração de 2 trimestres. A pequena recessão foi causada pelas expectativas da eleição de Lula, que fez o Dólar chegar a R$4,00 para o Brasil. Quando a economia global se tornou favorável, absorvendo manufaturados e produtos agrícolas brasileiros, as coisas melhoraram através das exportações.

Mas este não foi o último obstáculo na economia para Lula. A pior crise global desde 1929, a Crise do Subprime ou Crise de 2008, provocada pela explosão de uma bolha imobiliária na economia americana, trouxe consequências também para o Brasil, por cerca de 2 trimestres. O presidente disse aos brasileiros que por aqui a crise seria só “uma marolinha”. Mas aliado aos problemas econômicos já existentes no país, a queda acumulada chegou a 6,2%.

A recessão de 2009 foi curta porque o governo não impôs uma política de preços ou de proibição de demissões, permitindo que os preços no atacado pudessem cair. Os preços das matérias-primas agrícolas e industriais no atacado apresentaram uma negativa variação mensal entre dezembro de 2008 e o mês de agosto de 2009, e houve deflação de 1,71% no Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M).

Muitas demissões ocorreram na época, a taxa de desemprego atingiu os 9%, mas isso ajudou na recuperação financeira das empresas, que tiveram assim mais possibilidades de fazerem investimentos e novas contratações depois.

Mas com a quebra do sistema bancário a níveis mundiais os bancos comerciais brasileiros se tornaram mais cautelosos na concessão de crédito. O crédito na economia brasileira passou então a ser concedido em sua maior parte pelos bancos estatais, com juros quase sempre abaixo da taxa SELIC. Foi uma reviravolta. O uso dos bancos públicos como Caixa, Banco do Brasil e BNDES para tal propósito foi a volta da política monetária desenvolvimentista para ao Brasil, sendo esse envolvimento dos bancos públicos o mais importante pilar da “Nova Matriz Econômica.” O incentivo via expansão artificial do crédito concedido pelos bancos públicos gerou efeitos aparentemente benéficos no curto prazo, mas cobrou seu preço depois.

Os bancos privados se tornaram cada vez mais cautelosos em conceder crédito, pois viram que a inadimplência, os calotes e o número de pessoas com histórico ruim de crédito só crescia, enquanto os bancos públicos concediam mais e mais crédito sem se preocuparem com calotes, jogando mais e mais dinheiro na economia, fazendo os preços subirem cada vez mais, especialmente desde o segundo mandato de Lula.

Como resultado, outra recessão ficou oficialmente reconhecida no Brasil, de 2014 a 2016, nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, provocada pela expansão do crédito (especialmente o direcionado aos “setores estratégicos”), e com fatores aliados como fim dos ciclos das commodities e a crise política. A economia brasileira voltou a crescer a partir de 2017, mas ainda não se recuperou completamente.

REFERÊNCIAS:

IORIO, Ubiratan Jorge. Ação, tempo e conhecimento: A Escola Austríaca de Economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 1ª edição, 2011. 234p.

LIMA, Luiz Augusto. De “Fiscal do Sarney” a prateleiras vazias: 7 fatos sobre o Plano Cruzado. Disponível em: <https://www.vix.com/pt/bbr/ciencia/4149/de-fiscal-do-sarney-a-prateleiras-vazias-7-fatos-sobre-o-plano-cruzado>. Acesso em 14 de abril de 2019.

O Globo. As recessões brasileiras nas últimas quatro décadas. Disponível em: < https://infograficos.oglobo.globo.com/economia/as-recessoes-brasileiras-nas-ultimas-quatro-decadas.html>. Acesso em 14 de abril de 2019.

ROQUE, Leandro. O que houve com a economia brasileira?. Disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1943&ac=178218>. Acesso em 14 de abril de 2019.

ROQUE, Leandro. Tendências da economia brasileira - números e gráficos. Disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1347>. Acesso em 14 de abril de 2019.

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