Etileno

Doutorado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente (Instituto de Botânica de São Paulo, 2017)
Mestrado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente (Instituto de Botânica de São Paulo, 2012)
Graduação em Biologia (UNITAU, 2006)

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O etileno, um hidrocarboneto simples, é um hormônio vegetal gasoso cuja descoberta ocorreu no século XIX. Nessa época, o gás produzido pela queima do carvão era empregado nas lâmpadas para iluminação das ruas. Uma queda mais intensa nas folhas foi observada nas árvores que permaneciam próximas a essas lâmpadas que nas demais. O pesquisador Dimitry Neljubov descobriu que o etileno era o componente do gás que causava a desfoliação. Ele notou que plantas de ervilha mantidas no escuro (estioladas) e tratadas com etileno apresentavam sintomas clássicos, que mais tarde foram denominados de tríplice resposta: redução do crescimento longitudinal, engrossamento do sistema caulinar e mudança na orientação do crescimento vertical para o horizontal. Este hormônio é produzido em quase todos os tecidos vegetais em resposta ao estresse, especialmente em tecidos senescentes ou em amadurecimento. Como é um gás, move-se por difusão a partir do seu local de síntese.

Fórmula estrutural plana do Etileno (IUPAC: Eteno)

Na maioria das plantas, o etileno promove a inibição do crescimento, como demonstrado pela tríplice resposta. Entretanto, em plantas aquáticas submersas ou parcialmente submersas, o etileno pode agir estimulando o alongamento do caule e do pecíolo, como na pteridófita Regnellidium diphyllum e no arroz irrigado (Oryza sativa). Para essas espécies, o crescimento induzido pelo etileno faz com que os ramos superiores se mantenham acima da água, permitindo que as plantas possam acompanhar o ritmo de elevação da inundação. Este alongamento ocorre devido ao aumento da quantidade do hormônio giberelina nas células, como uma resposta ao etileno. Em tecidos submersos de algumas plantas, o etileno também pode levar a formação de um tipo de parênquima chamado aerênquima. No aerênquima estão presentes espaços preenchidos com ar, como resultado da degradação das células do parênquima da região cortical mediada por etileno. O aerênquima proporciona melhor oxigenação nas plantas e pode auxiliar durante a flutuação.

O amadurecimento de frutos é um processo que envolve diversas mudanças para torná-los comestíveis. Em frutos carnosos, ocorrem modificações na sua coloração devido a degradação de clorofila e outros pigmentos, amolecimento pela ação de enzimas que degradam a parede celular, hidrólise do amido e acúmulo de açúcares e desaparecimento de compostos fenólicos, como os taninos. Todas essas alterações tornam os frutos palatáveis e atrativos para os animais, que ao comerem os frutos contribuirão para a dispersão das sementes. Em certas espécies, durante o amadurecimento ocorre um grande aumento nas taxas de respiração precedido por uma elevação na produção de etileno. Esses frutos são chamados de climatéricos, tendo como exemplo a maçã, tomate, abacate, banana e pera. Frutos que não apresentam essas características são chamados de não-climatéricos, como uva, frutos cítricos e morango. Dessa forma, o efeito do etileno no amadurecimento de frutos possui um valor agronômico, sendo que muitos frutos são colhidos verdes e estocados na ausência deste hormônio até um pouco antes de serem comercializados. Essa técnica é muito utilizada para o amadurecimento de tomate.

A abscisão ou queda de folhas, frutos e flores também é mediada pelo etileno em várias espécies de plantas. Acredita-se que o papel deste hormônio seja a ativação de enzimas que degradam a parede celular em regiões específicas denominadas camadas de abscisão. Esse hormônio é utilizado comercialmente para o destacamento de diversos frutos, como cereja, amora, uva e framboesa, viabilizando com isso a colheita mecânica. Muitas vezes o etileno age de forma antagônica com o hormônio auxina, que previne a abscisão.

Referências bibliográficas:

Taiz, L. & Zeiger, E. 2013. Fisiologia Vegetal. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 918 p.

Raven, P.; Evert, R.F. & Eichhorn, S.E. 2007. Biologia Vegetal. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 830 p.

Arquivado em: Compostos Químicos
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