Intoxicação por mercúrio

Por Diego Marques Moreira

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

Categorias: Saúde, Toxicologia
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O mercúrio é um elemento químico do grupo dos metais e é encontrado em forma líquida na temperatura ambiente e naturalmente encontrado com características fáceis de identificação, como sua cor branca prateada, sem cheiro e quando submetido ao processo de aquecimento perde a coloração porém continua inodoro. O mercúrio é um metal cuja toxicidade é alta devido sua tendência à bioacumulação (acúmulo no organismo pela incapacidade do mesmo metabolizar esse composto químico), porém sua forma orgânica chama atenção por ter característica mais lipossolúvel (quando comparado às formas não orgânicas; forma metálica e forma inorgânica) oferecendo maior risco de contaminação. As formas metálicas e inorgânicas quando em contato com microorganismos, presentes em rios, lagos e oceanos, podem ser transformadas em metilmercúrio, sua forma orgânica, causando biomagnificação (acúmulo através da cadeia alimentar) e desequilíbrio pela perturbação das vidas aquáticas.

Bloco de chumbo boiando em recipiente contendo mercúrio líquido, pois a densidade do chumbo é menor que a do mercúrio. Foto: MarcelClemens / Shutterstock.com

A poluição oriunda de atividades antropogênicas como a agricultura, mineração, incineração, descarte de produtos são as principais fontes de contaminação do meio ambiente, presente em produtos como o antigo termômetro, restaurações dentárias, hidrômetros, lâmpadas fluorescentes entre outros. Por ter capacidade de bioacumulação, o mercúrio, pode gerar diversos problemas para quem usufrui da exploração local, o contato com esse elemento pode causar diversos problemas de saúde (JAISHANKAR, 2014). Em 1930 uma indústria japonesa lançava constantemente rejeitos provenientes de sua atividade na baía de Minamata, contaminando a região com altos índices de mercúrio, e somente após 20 anos de contaminação, começaram a aparecer os primeiros sinais oriundos da contaminação ambiental: morte de diversos animais, como peixes, aves e gatos, e em 1956 o primeiro caso registrado de contaminação humana. Após essa data vários casos foram registrados e a doença causada pela contaminação, ainda desconhecida, foi chamada de Mal de Minamata. Nessa ocasião centenas de pessoas vieram à óbito devido a alta taxa de contaminação, cerca de duas milhões de pessoas podem ter sido atingidas pela contaminação e alimentação, e cerca de 2.955 pessoas foram contaminadas e tiveram o mal de Minamata (GEORGE, 2001).

Como mecanismo de ação, tóxico dinâmico, o mercúrio tem grande afinidade e capacidade de ligação a grupos tiol o que pode levar a desnaturação, ou inutilização, das proteínas de diversos tecidos. Além disso, o mercúrio é capaz de interferir no processo de translação e transcrição genético provocando a formação de radicais livres afetando assim a integridade celular ou causando problemas na formação de diversas organelas resultando na erradicação ou completo desaparecimento como no caso dos ribossomos.

A contaminação através do consumo de peixes ou outros animais aquáticos é a forma mais comum de contaminação do mercúrio. Raramente há casos de intoxicação por esse elemento químico de forma aguda, e quando há normalmente está relacionado com casos de envenenamento. A forma de contaminação mais comum é por exposição crônica, ou prolongada. O metilmercúrio, forma orgânica do mercúrio, é responsável pela maior parte das intoxicações, provocando efeitos neurotóxicos pela destruição de diversas organelas presentes nas células e danos como no caso das mitocôndrias. Este elemento pode ainda causar a peroxidação de lipídios e acúmulo de diversas moléculas como a serotonina, o aspartato e o glutamato, neurotransmissores que em excesso na fenda sináptica podem causar diversos efeitos inclusive morte celular por neurotoxicidade. Apesar do cérebro ser o maior prejudicado pela exposição a esse metal, visto que a intoxicação pode, a modo geral, causar mal funcionamento dos nervos ou prejudicar em suas funções, a contaminação pode levar também a danos severos nos rins e músculos. Isso se deve a facilidade que o mercúrio tem de permear os tecidos. Sua inalação pode causar irritação e desencadear problemas respiratórios ou agravar, como no caso da asma e bronquite. Estudos realizados em 2005 por Haley sobre suscetibilidade genética e efeitos sinérgicos do mercúrio, cerca de 8% de mulheres americanas têm níveis de mercúrio que poderiam levar a danos neurológicos e consequentemente desordens neurológicas em recém nascidos.

REFERÊNCIAS

George, Timothy S. (2001). Minamata: Pollution and the Struggle for Democracy in Postwar Japan. Harvard University Asia Center. ISBN 0674007859.

Haley BE. Mercury toxicity: genetic susceptibility and synergistic effects. Medical Veritas. 2005;2(2):535–42.

JAISHANKAR, Monisha et al. Toxicity, mechanism and health effects of some heavy metals. Interdisciplinary toxicology, v. 7, n. 2, p. 60-72, 2014

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