Intoxicação por venenos de animais

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

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Peçonhas ou venenos de animais são uma das principais causas de acidentes toxicológicos no Brasil, esse tipo de acidente já chegou a registrar a segunda colocação em alguns anos atrás perdendo apenas para intoxicação por utilização errada ou indevida de medicamentos, segundo dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (SINITOX, 2011). Em 2017 apesar dos números diminuírem ainda temos vários casos relatados de intoxicação por peçonha de animais, sendo mais de 12 mil registros de casos e, cerca de 16 mortes.

Dentre os casos mais comuns de intoxicação pelo veneno destes animais estão, a intoxicação por peçonha de serpentes, escorpiões e aranhas. Sendo deles o acidente com escorpiões o mais comum, cerca de 9.800 (nove mil e oitocentos) casos sendo a maioria registrada na região Sudeste e Nordeste do Brasil, seguido por serpentes com 1.500 (mil e quinhentos) acidentes e aranhas com 900 (novecentos) registros, os outros são menos comuns e portanto costumam ser contabilizados em conjunto, totalizando 1.400 (mil e quatrocentos) acidentes com diferentes tipos de animais peçonhentos.

Escorpião da espécie Pandinus imperator. Foto: Aleksey Stemmer / Shutterstock.com

Os escorpiões conseguem se adaptar a lugares extremos portanto podem viver tanto em matas como em desertos, escondendo-se debaixo de pedras, telhas, fendas de árvores ou paredes, resto de materiais de construção e lixos. Portanto as formas mais eficientes de combate a esses animais é evitar o acúmulo de materiais residuais de obras, lixos. O acúmulo de lixo atrai insetos que servem de alimento aos escorpiões aumentando o número na região. Quando não conseguem encontrar alimentos acabam praticando o canibalismo gerando redução do número de escorpiões. Esses animais possuem um ferrão que carrega consigo um veneno neurotóxico, cuja ação é rápida. No local o veneno gera dores intensas, que rapidamente irradia pelo corpo da vítima chegando ao sistema nervoso central levando à morte por asfixia decorrente do bloqueio do sistema de comando central da respiração. Se rapidamente diagnosticado e tratado, o paciente tem chances consideráveis de sobrevivência utilizando o soro anti-escorpiônico. Dentre as mais de mil espécies conhecidas poucas possuem veneno capaz de matar o ser humano, na maioria dos escorpiões o veneno não é capaz de causar sérios danos, e em muitos casos são comparados a picadas de abelhas. Vale lembrar que mesmo não sendo tóxico o suficiente, se o indivíduo for alérgico ao veneno e não for tratado a tempo o mesmo poderá ter consequências graves.

No mundo existem por volta de 2.930 espécies de cobras e serpentes, já no Brasil há mais de 380 espécies diferentes de serpentes, sendo que destas apenas as famílias Elapidae e Viperidae são peçonhentas, ou seja, possuem veneno. Elipidae é uma família de répteis escamados, da subordem das serpentes. Os membros pertencentes a esse grupo são peçonhentos, são encontrados em climas tropicais e subtropicais; nesta família há aproximadamente 231 espécies sendo as mais conhecidas a naja e a mamba-negra. Já a Viperidae é uma família de repteis escamados também da subordem das serpentes, e possuem como características a cabeça triangular e presença de fossetas loreais (órgão sensorial responsável por detectar calor, também chamado de órgão sensorial termorreceptor). O aparelho venenoso da família Viperidae é um dos mais eficientes de todos os répteis, os dentes por serem curvos são capazes de injetar o veneno profundamente. Esta família é capaz de detectar presas por sua sensibilidade ao calor e a radiação infravermelha, talvez por conta deste fator, possuem hábitos noturnos. Os animais mais conhecidos dessa família são a víbora-da-morte, cascavel, jararaca e surucucu.

Cobra cascavel (Crotalus durissus). Foto: Susan Schmitz / Shutterstock.com

O tratamento da intoxicação por venenos de cobras é realizado de acordo com os sinais e sintomas do paciente aliado ao tratamento com soros anti-botrópicos, anti-crotálicos, ou a mistura de ambos, dependendo da espécie que inocular o veneno. Quanto mais rápido o atendimento da vítima maiores as possibilidades de recuperação sem danos aos tecidos e menor o risco de morte. Vale ressaltar que a identificação do animal é importante para que a equipe médica possa iniciar o tratamento correto.

Fontes:

SINITOX, Casos, Óbitos e Letalidade de Intoxicação Humana por Agente e por Região. Brasil, 2017. Acesso em: 09-10-2019 Disponível em: https://sinitox.icict.fiocruz.br/sites/sinitox.icict.fiocruz.br/files//Brasil3.pdf

Bérnils, R.S.; Costa, H.C. (2015). «Répteis brasileiros: Lista de espécies» . Herpetologia Brasileira. 4 (3): 75-93. ISSN 2316-4670

"Elapidae". Integrated Taxonomic Information System. Retrieved 27 November 2006.

Gary A. Polis, The Biology of Scorpions; Stanford University Press; Stanford, CA

The rapitales database. Acesso em 16-10-19. Disponível em: http://reptile-database.reptarium.cz/advanced_search?taxon=viperidae&exact%5B0%5D=taxon&submit=Search.

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Arquivado em: Saúde, Toxicologia
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