Alantoide

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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O alantoide é uma das membranas extraembrionárias encontradas nos Amniota, que são os animais vertebrados que possuem desenvolvimento fetal encapsulado no âmnio. Os répteis, aves e o grupo monotremado dos mamíferos possuem alantoide associado ao embrião como uma estrutura no interior dos ovos, enquanto os mamíferos marsupiais apresentam um alantoide não fusionado à bolsa amniótica e os mamíferos placentários tem uma diferenciação do alantoide em parte da estrutura que forma o cordão umbilical.

Anatomicamente o alantoide é uma estrutura sacular vascularizada preenchida com líquido translúcido que recebe as excretas líquidas do embrião e auxilia na troca de gases. Os únicos vertebrados que não possuem alantoide são os anfíbios e os peixes não-tetrápodes. Nos ovos dos Amniota ovíparos, o alantoide fica no interior da bolsa amniótica e recebe o oxigênio que consegue ser absorvido pela casca e se dissolve na albumina. Além disso, ele acumula as excretas nitrogenadas do embrião ao longo do desenvolvimento. Esta é a mesma função do alantoide nos marsupiais, como do canguru, estocando os dejetos nitrogenados. Contudo, eles possuem modificações estruturais como a ausência de vascularização e desconexão em relação ao cório, membrana externa da bolsa amniótica.

Localização do alantóide em um ovo. Ilustração: CNX OpenStax / CC-BY 4.0

Nos organismos que se desenvolvem em ovos, o alantoide também intermedia a transferência de cálcio presente na casca para os ossos do embrião. Este processo essencial não somente desenvolve o sistema esquelético embrionário como também facilita a eclosão do neonato, uma vez que enfraquece a casca, reduzindo sua dureza e resistência. Estudos na avicultura tem observado o alantoide como uma estrutura de interesse em que se pode alterar o estado nutricional do embrião. Pela introdução artificial de fontes de carboidratos externas (como glicose) no alantoide de ovos de galinha obteve-se a eclosão de pintos com maior peso corporal. Contudo, este ganho em massa não parece se traduzir em maior peso ao longo do desenvolvimento e nem em aumento corporal do animal, além de trazer riscos provenientes da técnica, como mortalidade embrionária e alteração da capacidade de eclosão. Outra linha de pesquisa envolvendo o alantoide tem como objetivo identificar a presença de vírus em aves migratórias utilizando os ovos como local de testagem da hemaglutinação do líquido alantóico exposto a amostras fecais de adultos. Estudos conduzidos por pesquisadores brasileiros foram capazes de monitorar o vírus influenza através desta técnica.

Em humanos e outros mamíferos placentários, o alantoide é altamente modificado, fusionando-se com outros tecidos embrionários para formar a estrutura base responsável pela vascularização do cordão umbilical. Isto ocorre porque a função original do alantoide, encontrada em aves e repteis por exemplo, passa a ser desempenhada pela placenta. Além disso, o alantoide também se diferencia na estrutura fetal denominada de úraco, que fica na região abdominal (inserção do umbigo) e conecta a bexiga do embrião com outras membranas, responsável assim pela remoção da excreção nitrogenada do corpo em desenvolvimento. O alantoide modificado em úraco pode causar o cisto uracal, uma condição clínica na qual a conexão umbilical com a bexiga permanece mesmo após o nascimento. Essa massa se acumula no abdômen e pode causar desconforto, dores abdominais, febre e até mesmo infecções. Seu diagnóstico aparece quando a criança apresenta algum dos sintomas, confirmado por um ultrassom abdominal identificando o cisto. O tratamento mais comum envolve o uso de antibióticos e, em casos mais severos, a remoção cirúrgica do cisto.

Referências:

Leitão, R.A., Leandro, N.S.M., Stringhini, J.H., Café, M.B. and Andrade, M.A., 2010. Inoculação de maltose, sacarose ou glicose em ovos embrionados de baixo peso. Acta Scientiarum. Animal Sciences32(1), pp.93-100.

Rojas, M. and Rodríguez, Á., 2014. Embryonic Annexes. International Journal of Medical and Surgical Sciences1(4), pp.301-309.

Bianchi, I., 2007. Estudo do Vírus Influenza A em Aves Migratórias e Residentes do Norte do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, no Período de 2004-2007. Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes (Tese de Doutorado).

Portela, A.R., Nishmoto, R.H., Palma, M.C. and Almeida, R.L., 2016. Cisto de Úraco Infectado como Diagnóstico Diferencial na Dor Abdominal e Abordagens Terapêuticas. CEP30310, p.580.

Arquivado em: Embriologia
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